Sunday, January 17, 2010

Fraternidade

O Dicionário Aurélio oferece 3 definições para a palavra fraternidade. Primeiro, define fraternidade como o parentesco de irmãos, ou irmandade; depois, amplia o significado e explica que fraternidade é amor ao próximo, ou fraternização e, finalmente, oferece uma terceira opção, definido fraternidade como união ou convivência como de irmãos; harmonia, paz, concórdia, fraternização.
Sem dúvida são todas válidas. A fraternidade, o amor fraternal, desabrocha primeiro entre irmãos, na família, através da convivência, da necessidade de auxílio mútuo na vivência de experiências semelhantes. As dificuldades impostas pela vida social reforçam ainda a necessidade de um abrigo familiar onde o indivíduo pode dividir seus problemas, amparar e ser amparado, e recarregar suas forças. É o ambiente familiar que proporciona mais estímulos ao desenvolvimento do amor fraternal.
A família é, portanto, essencial no desenvolvimento do amor fraternal. A família é o presente divino que nos possibilita a convivência com irmãos amados de outras eras – almas afins a nossa, ou irmãos aos quais precisamos aprender a amar fraternalmente, desenvolvendo a amizade e a confiança, e fnalmente o amor fraternal. Como diz Joanna de Angelis, através da psicografia de Divaldo Franco, a família é o “cadinho onde o amor fermenta e desenvolve-se”.
Assim, nascemos numa mesma família, irmãos biológicos nesta vida, e na maioria das vezes Espíritos que já nos conhecemos em outras existências. O afeto que nos une já vem se desenvolvendo desde ontem – em reincarnações passadas, ou está para desenvolver-se na oportunidade de convivência no ciclo familiar.
Quando o afeto já está presente, já somos irmãos fraternos; almas afins de outras existências, e sentimos a amizade que nos une e nos impele a ajuda mútua e sincera. Compartilhamos idéias, dividimos pequenos segredos, gostamos de estar juntos, temos nossas pequenas desavenças, mas logo superamos e a amizade permanece.
Quando a familia reune espíritos que em existências passadas tiveram grandes problemas de relacionamento, e a desavença levou a grandes ressentimentos, trazendo o ódio ou ciúme a tona, estas almas ora reincarnam juntos para desenvolver o amor e a amizade através dos desafios da convivência diária, para que o cadinho do amor fraternal fermente.
Esta visão reincarnacionista espírita, explica os laços de afeto ou desafeto que sentimos com aqueles que convivemos. Explica também, sem sombra de dúvidas, as simpatias e antipatias que, desde o berço, envolvem membros de uma mesma família. Embora ocorram casos em que os irmãos se detestem, chegando mesmo ao ponto de se destruírem mutuamente, existem outros casos em que se amam e se auxiliam mutuamente.São famílias que nasceram para amparar-se mutuamente e alcançar objetivos altruístas.
Lembramos uma família conhecida na qual a filha é deficiente mental devido a um acidente de parto, e necessita desde a infância de atendimento especial: ensino, atenção especializada, e carinho e amor. O irmão mais velho, desde o nascimento da menina dedica-se junto aos pais a cuidar da pequena deficiente, que por vezes é mesmo agressiva. Quando os conhecemos, tinha a pequena doze anos, e manifestava-se a puberdade ; o irmão, quatro anos mais velho, em plena adolescencia, mesmo assim mantinha-se amoroso e compreensivo, apoiando e lutando pela educação da irmã ao lado dos pais. "Eu ajudo", são e sempre foram suas palavras mais freqüentes. Indivíduos que se uniram para o crescimento e ajuda mútua. Vencedores, por certo!
É comovente observar como Deus dispõe os seres de forma a exercitarem o amor.
Lembro de vários episódios de minha infância quando, eu, pequena e magrinha, era ofendida pelos nossos amiguinhos da vizinhança e chegava, invariavelmente, minha irmã menor, mais corpulenta e forte, que enfrentava as outras crianças e defendia-me de todos. Eu ficava eternamente agradecida por ela me livrar de situações que eu não conseguia enfrentar. Lembro ainda de ocasiões em que faziamos uma das nossas peraltices de crianças, ou quando brigávamos entre nós e chegava minha mãe, para colocar ordem, geralmente com a  melhor pedagogia infantil daquela época - a famosa palmada no bumbum! Pois, dizia ela, era mais macio e não machucava. A sua era a palmada do amor – não devia doer, mas corrigir! O efeito era imediato: parávamos a briga e juntas buscávamos um refúgio seguro até que a ira dela aplacasse – durava invariavelmente uma boa hora! Nesta hora, a nossa divergência era esquecida e já nos tornávamos boas aliadas.  Era a união fraternal que ia se estabelecendo aos poucos, e que hoje nos une fortemente.
Amor fraterno. Fraternidade. Felizes os que aproveitam a oportunidade do exercício e estabelecem pontes eternas do seu para o outro coração.